quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Humanização e a Enfermagem

Mónica Andréa Miranda Aragão

No dia-a-dia assistencial o profissional de saúde se depara com diversas pessoas que possuem características próprias, problemas, medos, anseios e uma individualidade singular, e muitas vezes atendemos a esse cliente com eficiência técnica de forma automática, esquecendo que este “ser” detém a sua história, o seu contexto social, universo cultural e que vive um determinado momento, seja ele de superação ou de dificuldades.
A abordagem sobre a humanização nos leva a uma reflexão do nosso cotidiano, principalmente, ao profissional de enfermagem que na sua essência está a serviço do indivíduo, da família e da comunidade na busca de soluções compartilhadas para a melhoria de sua qualidade de vida.
Como podemos entender, humanização é o ato de humanizar, que consiste em tornar humano, isto é, canalizar as capacidades humanas no sentido de distribuir integral e igualitariamente à humanidade, um conjunto de benefícios e resultados considerados pré-condições da condição humana.
E para a garantia da qualidade nos serviços de saúde, se faz necessário um processo de reflexão em todos os profissionais envolvidos no processo de cuidar, não simplesmente na busca pela cura de doenças, mas centrada no indivíduo, o qual necessita de cuidados. Devemos reconhecer que procedimentos técnicos e equipamentos de alta tecnologia já não são suficientes para satisfazer o paciente e suas demandas, devendo haver carinho, atenção, respeito à sua individualidade, e compromisso com a sua saúde e todas as demais questões que o permeiam.
Diante do crítico cenário que encontramos a saúde de nossa população carente de compromisso e seriedade, convém aqui resgatar a responsabilidade que nós, enquanto profissionais de saúde detentores de algum “conhecimento”, proporcionarmos aos nossos clientes satisfação com o nosso acolhimento, garantindo melhoria de vida, através de um atendimento humanizado e qualificado.
Cabe, portanto, questionar como promover a conscientização de uma classe, responsável pelo cuidado com a saúde, como é a Enfermagem, resultando em uma prática de atenção através da qualidade de vida em níveis aceitáveis à população?
Segundo MERHY, (1999, p. 104) “os usuários de modo geral não reclamam de falta de conhecimento tecnológico no seu atendimento, mas sim da falta de interesse e de responsabilização dos serviços sentindo-se, assim, inseguros, desinformados, desamparados, desprotegidos, desrespeitados e desprezados”.
Podemos, então, observar que precisamos ir além, notar que a resolutividade dos problemas de saúde que cercam os nossos usuários passam pela necessidade da responsabilidade, do acolhimento, da humanização, do olhar com cuidado de todos os profissionais da área da saúde.
“Muitas vezes a saúde, a cura, a prevenção, dependente de tantos fatores, não estarão em nossas mãos, porém o acolhimento e o cuidado – estes sim, sempre possíveis – mesmo que não possam curar a patologia, poderão antes de tudo ‘curar’ a desumanidade, uma doença que está matando a todos”. (SMS, 2002, p. 53).
A base para a compreensão da humanização está no reconhecimento da complexidade do ser humano, incluindo sua dimensão racional, objetiva e prática, bem como sua subjetividade, intuição, emoção e sentimento.
“É preciso deixar de avaliar os serviços de saúde apenas quantitativamente: equipamentos; paciente-dia; porcentagem de ocupação; consultas realizadas; quantidade de profissionais e coisas do gênero, e começar a avaliá-los qualitativamente: saúde “produzida”; educação dada; satisfação garantida; sofrimento evitado; erros prevenidos e decisões acertadas”. (MEZOMO, 2001).
Romper com as práticas e posturas historicamente legitimadas é um dos principiais desafios da Humanização e da Enfermagem. Praticar a Humanização enquanto um processo estruturante no âmbito dos serviços de saúde pressupõe mudanças amplas e profundas que começam internamente na consciência de cada enfermeiro, estendendo-se a uma reorganização de todos os processos de trabalho e estrutura dos serviços de saúde.
Uma cultura de Humanização pressupõe a ruptura com os modelos mentais instituídos, pautados no distanciamento, formalização e burocratização das relações entre as pessoas no âmbito dos serviços de saúde. Significa exercitar e privilegiar as relações e interações entre as pessoas através da desconstrução da cultura reinante nos serviços de saúde, modificando de forma profunda o pensar e o fazer no âmbito desses serviços.

BILBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
MERHY, E. E. Um ensaio sobre o médico e suas valises tecnológicas: contribuições para compreender as reestruturações produtivas do setor saúde. DMPS/FCM/UNICAMP, Nov, 1999. 9p. (mimeo)
MEZOMO, João Catarin. Gestão da qualidade na saúde. São Paulo: Ed. Manole, 2001. 301p.
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde. Acolhimento: o pensar, o fazer, o viver. São Paulo, 2002. 128 p.

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